Bienal do Livro do Rio vai na contramão da censura no Brasil

Editoras, perfis das redes sociais e órgãos da justiça responderam à cena inédita no evento.




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Bienal do Livro do Rio vai na contramão da censura no Brasil

Na última sexta-feira (6), o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, após visitar a Bienal do Livro, enviou fiscais da Secretaria Municipal de Ordem Pública para recolher livros com temas ligados à homossexualidade. O fato, jamais visto na história do evento, provocou uma reação de massa contra o a tentativa de censura. Editoras, perfis das redes sociais e órgãos da justiça responderam à cena inédita do evento.

A prefeitura mandou recolher a história em quadrinho Vingadores: A Cruzada das Crianças, da Marvel, com a justificativa de que a publicação teria “conteúdos impróprios para menores” por trazer um beijo entre dois homens.

A Comissão de Direitos da Criança e do Adolescente da OAB, disse que a determinação do Estatuto usada como justificativa para o recolhimento dos livros, só se aplicaria em casos de nudez ou sexo explícito, o que não é vista na HQ consagrada da Marvel.

Ainda no final do dia desta sexta, o Tribunal de Justiça do estado concedeu uma liminar ao evento que impediria o recolhimento de qualquer obra e a alteração na licença de funcionamento da feira.

Já neste sábado (7), em meio às comemorações do Dia da Independência do Brasil, a ação divulgada na noite de ontem (6), pelo youtuber Felipe Neto , em que distribuiria gratuitamente 14 mil exemplares com personagens e temáticas LGBT+, gerou filas e muitas movimentações na manhã do penúltimo dia da Bienal do Livro. Os livros foram cobertos em plástico com um adesivo: “Este livro é impróprio para pessoas atrasadas, retrógradas e preconceituosas”.

Mesmo com a decisão do Tribunal de Justiça, a prefeitura do Rio de Janeiro fez nova fiscalização na Bienal do Livro. A chegada da Secretaria de Ordem Pública do Rio de Janeiro se deu por volta das 18h deste sábado (7), para intimar a Bienal da última decisão declarada pela Justiça. A secretaria recolheria os livros com temáticas LGBT que sobraram. Mais uma vez, o youtuber Felipe Neto publicou no Twitter um vídeo pedindo que as pessoas presentes filmassem toda e qualquer ação dos agentes.

A equipe da prefeitura foi recepcionada por Mariana Zahar, vice-presidente do Sindicato Nacional de Livros, que tentará argumentar contra a fiscalização diante do alto número de pessoas que frequentaram a Bienal neste sábado.

Censura: mais um caso dentre tantos outros no Brasil de Bolsonaro

Três dias antes da tentativa de censura preconceituosa à Bienal do Livro, o governador de São Paulo, João Dória, teria mandado recolher das escolas estaduais, um material didático que, segundo ele, fazia apologia à “ideologia de gênero”. O material se tratava de um livro de Ciência, que continha o texto Sexo biológico, identidade de gênero e orientação sexual. O livro explicava as diferenças entre os termos “transgênero”, “homossexual” e “bissexual”

O presidente Jair Bolsonaro, também é um personagem-chave em ações de censura a ações que visam promover o debate sobre educação sexual e respeito às diferenças. No mesmo dia da determinação de Dória, Bolsonaro pediu ao Ministério da Educação para elaborar um projeto de lei contra o que chama de “ideologia de gênero” no Ensino Fundamental. As editoras, entretanto, vêem as imposições dos representantes como uma grave ameça à liberdade de expressão.

Os atos de censura ou discursos intolerante às produções culturais e educativas que pautam a diversidade, vêm atravessando o Brasil há meses, principalmente após o início do Governo Bolsonaro. Ainda no período pré-eleitoral das Eleições Gerais de 2018, o hoje presidente do Brasil havia se envolvido em uma polêmica por mentir sobre livro que circularia nas escolas do país, chamando-o de “kit gay nas escolas”.

O fundador da Companhia das Letras, Luiz Schwarcz, afirmou que “Eles (Crivella, Dória e Bolsonaro) desprezam valores fundamentais da sociedade e tentam impedir o acesso à informação séria, que habilita os jovens a entrar na fase adulta mais preparados para uma vida feliz”. Luiz ainda comentou que os atos de censura no Brasil “tentam colocar a sociedade brasileira em tempos medievais, quando as pessoas não tinham a liberdade de expressar suas identidades”

De acordo com o relatório do Grupo Gay da Bahia, em maio deste ano, declarou que no Brasil foram 126 homicídios e 15 suicídios nos cinco primeiros meses de 2019, o que representou uma média de uma morte a cada 23 horas. Com esses dados e com os ataques à liberdade de expressão no Brasil, discussões e debates passam a ser vistos com mais atenção.