Foto: Patrícia Silva / Diocese de Crato
No próximo domingo, dia 22 de setembro, a partir das 7h30, a diocese de Crato estará realizando a 20ª edição da Romaria das comunidades ao Caldeirão do Beato José Lourenço, que este ano tem como tema “Caldeirão da Santa Cruz e as Políticas Públicas”.
Anualmente, a romaria acontece no Sítio Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, em Crato, e reúne diversas caravanas vindas de diversos lugares da diocese. O objetivo é buscar através da memória do Beato José Lourenço, fortalecer a atuação dos movimentos sociais.
O Caldeirão: trabalho, igualdade e religião
O Caldeirão foi uma comunidade liderada pelo Beato José Lourenço, brutalmente reprimida pelas forças militares em 1937, por carregar ideais de uma sociedade mais justa e humanitária. Na comunidade, tudo era de todos e, por essas e outras características, tornou-se exemplo para discutir questões sociais de projetos voltados hoje para a vivência com o semiárido.
A comunidade do Caldeirão de Santa Cruz chegou a ter mais de mil moradores e recebeu vítimas da seca de 1932 que havia se perpetuado no Nordeste. Os romeiros e imigrantes que viviam no Caldeirão, trabalhavam coletivamente e dividiam o lucro. A forma como a comunidade se organizava foi vista como uma ameaça às forças latifundiárias que predominavam no país.
Após a primeira ação de extermínio da história do Exército Brasileiro e da Polícia Militar do Estado do Ceará, através de um grande massacre, centenas de pessoas foram mortas. Até hoje, os corpos não foram encontrados e não existe um documento oficial que registre o acontecimento.
Memórias do Caldeirão nas expressões artísticas e visuais
Os familiares e descendentes das vítimas do massacre nunca souberam onde encontram-se os corpos. No entanto, a memória dos que ficaram – e dos que vieram – é uma voz incessante, que vem à tona pelo testemunho da oralidade.
Prova disso é o produto final da dissertação da agora mestra em Comunicação, Kelsma Gomes. A partir de relatos dos remanescentes do Caldeirão da Santa Cruz, das memórias que o tempo não apagou, foi construído um grafite para ocupar uma das paredes da Universidade Federal do Cariri – UFCA.
Além das vozes dos remanescentes e das mãos de Kelsma, o grafite teve a participação dos integrantes do LIMBO – Laboratório de Imagem e Estéticas Comunicacionais da UFCA, e de artesãos/artistas que fizeram a xilogravura (Abraão Batista) e o grafite (Fabiano Dias, Pacato Dias e Adriano Barros).
O massacre que aconteceu naquela época é negado politicamente até hoje. Foi um dos objetivos da pesquisa de Kelsma não permitir que se apague a memória dessa história, ocupando espaços públicos de visibilidade.
Programação da Romaria 2019
A programação contará com um momento de acolhida às 7h30, seguido da celebração da Santa Missa, às 8h.